Sentindo Lilu

domingo, fevereiro 12, 2012


A cineasta Alyne Fratari, colaboradora do Coletivo Esfinge, leu o conto Sem Palavras e me alertou, recentemente, para uma característica interessante do texto: a riqueza sensorial em detrimento da sugestão de imagens. A partir da visão dela, compreendi que o conteúdo imagético está ali, mas não permite que o leitor imagine fisicamente detalhes importantes como corpos, ambientes. Como se houvesse conivência com o mistério, algo próprio da vida marginal daqueles que compartilham a pessoa amada, que têm hora pra beijar, planejamento a médio prazo pra trepar. E nem todo mundo sabe o que é isso.

A partir do comentário, fui sacar que esse aspecto do conto é muito mais influência de Lilu e do jeito dela ser. Do jeito que criei pra ela ser nesta obra de ficção.

Que não se engane o leitor que pensa que intensidade é prerrogativa da Nega. As duas vivem o romance com intensidade ‒ basta ler Sem Palavras pra se convencer ‒, uma diferença entre elas é que o tesão é o ponto de partida pra Nega enquanto para Lilu, o tesão é uma consequência. (conclusão a partir das palavras de Ana Christina da Rocha Lima)

Sendo assim, o alto grau de sensorialidade contido no conto é inspirado na forma como Lilu se relaciona com as coisas e as pessoas. Isso a Nega aprendeu muito bem na troca que fizeram de conteúdo, durante o período em que se viram, se falaram, se devoraram, se desconectaram. 

E o universo sensorial foi introduzido na história a partir do momento em que uma compartilhou imagens com a outra. Que aparentemente ‒ e maravilhosamente ‒ contraditória essa história! Derretimento de geleiras, caminhada no deserto, mergulhos oceânicos e, entre elas, uma das sensações e imagens mais livres descritas por Lilu para ilustrar seu amor pela Nega foi levada para Salvador, lançada como uma mensagem na garrafa ao mar, na intervenção urbana realizada pelo artista Mateus Dutra. Agora já são 17 cidades em 11 países.


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