Sem Palavras: 6 nov 2009 - 3h33
domingo, novembro 06, 2011
Sinead
de Laura
Passing <laura.passing@gmail.com>
para Brisa
Marin <eusoubrisa@gmail.com>
data 6
de novembro de 2009 03:33
assunto Sinead
enviado por gmail.com
Querida Brisa, fui...
Respeito Bárbara. Gostei mais dela, desde
o começo. Você sabe.
A noite foi linda. Grata pela companhia.
Originalmente, sua apresentação para
Nazaré Tenório seria algo mais assim: presença necessária, força da natureza...
flor de cajueiro.
Fiz o conto espanhol abaixo inspirada em
você, na sua energia, beleza, sensualidade e inteligência. Ele segue incompleto
porque, já na literatura, tive dúvidas se o Capítulo II poderia se consumar,
apesar de tê-lo escrito. Curto e intenso.
Te quero.
Laura
Sem Palavras
Capítulo I
Um dia te escreveria um e-mail de conteúdo
profissional, meio longo, e com mensagem subliminar. Assediada há algumas
semanas, você simplesmente me responderia: “Te quero”.
Se conseguisse, não te responderia,
deixando uma palavra no ar para quando nos encontrássemos e eu pudesse sorrir
pra você. De outra forma, simplesmente te enviaria um “Também” e ficaríamos as
duas à espera de um encontro que, se dependesse de mim, seria casual. Mas para
construir uma relação diferente, entraria em seu escritório sem avisar.
Te pego de assalto. Respirando menos
pausadamente eu seria recebida por você com um abraço de vida própria. Nós o
deixaríamos valer até que ele se consumasse e precisássemos nos separar. Você
faria alguma brincadeira pra descontrair e eu seria direta: quando nos vemos?
— Agora.
Pausa e sorriso de canto de boca para
rapidamente pensar o que significava aquilo.
— Então vamos. Respondo.
E minha história paralisada continua
quando pego em sua mão, sem preocupações. O fone toca, sobressalto e suspense.
Por favor, não repasse nenhuma ligação e não permita a entrada de ninguém.
Ninguém.
Em silêncio, entramos no lavabo. Suspiros
contidos.
Nos entreolhamos e temos pouquíssimo
tempo. Me aproximo. Sem comentários, beijo cuidadosamente seu lábio superior
antes de introduzir minha língua em sua boca. As línguas se encontram, existe
tensão e diálogo ali. Você me quer. O beijo funciona. Começo a me excitar.
Atentas às sutilezas, nos afastamos sem palavras.
Desejo encontrar ninguém pela frente.
Desço escadas rapidamente, saio do prédio e você me vê pela janela.
— Alô...
— Então... quando nos encontramos?
Silêncio.
— Assim que você puder.
Silêncio.
— Te mando um e-mail mais tarde.
— Acho perfeito! Beijo.
— Beijo.
E o restante do dia resumiu-se. Na
tentativa insensata de me concentrar, só consegui reconstituir nossa cena. Não
chequei minha mailbox, procurando administrar ansiedades. O beijo estava
presente e me manteve sexualmente excitada ao longo do dia. Vontade de cantar
canções sofridas de Tom Jobim. “Gabrieela... Gabriela-a”.
Recebi seu e-mail no começo da noite. Nele
você voltava a mencionar a frase dita em uma de nossas conversas a sós – e
foram tão poucas – compartilhando o desejo de “conhecer meu universo”. Na
ocasião não compreendi bem a expressão e fui sincera dizendo que não havia
entendido, porém sem te pedir mais explicações. Deixando rolar, apenas... Foi naquele
dia que tudo começou aqui dentro. E agora eu estava aberta.
Fui encontrá-la em um café. Quis água.
Você pediu um cappuccino, depois voltou atrás e cancelou. Duas águas com
gás, por favor.
Conversamos atentamente, você se
esforçando para não falar de trabalho e eu tentando não deixá-la falar demais.
Quando eu tomava a palavra, logo sentia vontade de me calar pra te ouvir um
pouco mais e te observar em suas escolhas. Aquilo me aquecia e me confortava.
Quando mexi no cabelo, relaxadamente, pela terceira vez, você disse aquele
“então...”.
— Aquele beijo foi muito gostoso.
Confirmei balançando a cabeça. Olhares.
— Quero mais, completei e sugeri que
fôssemos embora. Ficou resolvido que daríamos uma volta. Nunca a havia visto
dirigir e achei isso interessante.
Antes mesmo de movermos o carro, acariciei
seus cabelos. Toquei levemente o pescoço que observava há meses e que quis
beijar várias vezes. Você sorriu mostrando os caninos e, perto dali, parou
embaixo de uma quaresmeira florida que exalava um perfume noturno inebriante,
bem perto da mansão branca que costumei chamar de Twelve Oaks. Suas mãos
estavam frias quando pousaram em minha face, antecipando um beijo quente,
volumoso, lento, determinado a me engolir.
No dia seguinte, nos vemos para tratar de negócios,
me sinto leve, bonita. Tomamos um chá enquanto discutíamos a campanha em curso.
Pegou em minha mão como quem introduz um novo assunto, me propondo um encontro
em um lugar mais tranquilo. Aceitei na hora. Disse que me hospedaria em um
hotel para aguardá-la.
Dito e feito. Às 19h45 a recepção me
avisaria da chegada de Gabriela. Estávamos loucas por privacidade e, ao fechar
a porta em suas costas, já nos agarramos ali mesmo, na entrada do banheiro.
Dadas as boas-vindas, você me perguntou sorrindo se eu não queria entrar... As
risadas eram bom sinal. Estava tudo bem, nenhuma insegurança, nenhuma culpa,
apenas uma vontade grande de ampliarmos a intimidade dos carinhos.
15 comentários
Então...
ResponderExcluirVejo escritas as palavras de SEM PALAVRAS
Insinua-se já o lema da "plenitude do amor e a essência da vida"
Contaminada pela expectativa de mais um encontro, mais ou menos como acontece com uma nova paixão, a segunda página daquele livro que a gente há tempos estava querendo ler. Só que vou ter de segurar a ansiedade pois a virada da página , bem, não posso fazer isso agora. Nega Lilu no comando. Esperar.
Seu comentário me emociona. Sim, é paixão!
ResponderExcluirNega, paixão intensa e suave. (h)À espera de mais. Uma página a ser (d)escrita, ou lida, ou virada pelo avesso.
ResponderExcluirCurto muito seus posts!
Que lindo, Maria Lemke. Vale tudo saber isso... E fico aqui pensando na intensidade de uma página "virada pelo avesso". Também tenho acompanhado seu trabalho tão autoral, talentoso. Te procurei no Facebook, mas não te achei. Grata pelo carinho. Beijo da Nega.
ResponderExcluirComo é bom quando nos sentimos plenos ao lado de quem amamos, sem culpas ou inseguranças. Simplesmente cativante o início do conto.
ResponderExcluirPois é, tem muita simplicidade em 'Sem Palavras'. E me ocorre agora que às vezes é isso que a gente acaba chamando de mistério! Que loko. Obrigada pela oportunidade de reflexão, leitor(a) anônimo(a). Esteja por aqui com a gente...
ResponderExcluirNega, eu não tenho FB... qqer hora ativo. Mas, to sempre por aqui. às avessas, em labirintos, à margem do rio...ou no deserto. Que bom qe vc gosta do q lê no deserto...vc é sempre bem-vinda lá.
ResponderExcluirVi um cartaz teu na Estação do Açaí, quero ver uma peça sua.
bjins
Então começamos os trabalhos. Ótimo! Que venham os próximos capítulos! Beijos e boa sorte!
ResponderExcluirEspero você, Maria Lemke. O espetáculo de dança está maravilhoso. A estreia vai rolar nos dias 11 e 12 de novembro, às 20 horas, no Espaço Quasar (Rua T-28, 717, Setor Bueno). Ingressos: R$ 20 e R$ 10. Amanhã, dia 7, tem atividade para a discussão do processo criativo da ação de dança no contexto do Projeto Esfinge, que comenta, transforma e difunde o conto 'Sem Palavras'. Beijo da Nega.
ResponderExcluirRody, meu amigo... e está sendo tão lindo. A manifestação dos leitores já enriqueceu sobremaneira a relação de Brisa e Laura, que está apenas começando para quem acompanha o romance 'Sem Palavras'. Os acessos ao blog, no período de uma semana, correspondem ao desempenho em 15-17 dias, considerando o histórico que temos. Ou seja, incremento de mais de 100% na performance. E avante!
ResponderExcluirmuito envolvente... e olha que o titulo > sem palavras rsss...
ResponderExcluiraguardarei com ansiedade parabens
Então, Alessandra... Seu feedback é super importante. Muito grata. Por aqui, fôlego preso para acompanhar a receptividade do Capítulo II do conto, que é um tanto ousado. O post estará disponível aqui nesta terça, às 4h03. Boa noite!
ResponderExcluirMaravilhoso, simplesmente.
ResponderExcluirGrata, Bárbara Mendes.
ResponderExcluirE sem pretensões de te dizer o que é amar (numa referência à sua apresentação no blog É tudo verdade, que acabo de visitar).
Ducaralho seu texto, garota! Elegância...
Acompanho o conto e algo extraordinário aconteceu comigo ao ver o espetáculo de dança... Memórias adormecidas chegaram em lágrimas de emoção.
ResponderExcluirTenho a sensação que esse amor nasceu no plano das palavras e nele o é, pertencente ao mundo das forças que reverberam e que táteis se tornam.
O tocar sem nunca estar diante do outro. Diante do belo os olhos são desnecessários.
Charlotte Lilly